segunda-feira, 27 de julho de 2009

Deixar-te partir....

Há pessoas que atravessam as nossas vidas como corredores velozes, que deixam marcas, memórias, reminiscências. Tu ÉS uma dessas pessoas.

Pouco tempo antes de ires embora, dei por mim sentada no puff da tua sala, a tentar perceber como iria ocupar a tua ausência, como poderia encher aquele vazio que já estava a sentir...Convenci-me que iria seguir a velha lógica do 'one day after another', mas depressa constatei que iria ser duro, uma tarefa árdua, digna de um pit bull.

Foram tempos que passaram depressa, mas intensos. A minha velocidade pessoal não conseguiu acompanhar tudo aquilo, eis a primeira assumpção escrita neste texto.

Fizeste-me uma imensa falta,
Para trás ficaram as conversas na tua mesa azul da cozinha,
A tua austeridade no tom que eu tanto aprecio e que alternavam sempre com um piada britânica, em jeito de humor inglês do sul,
O adormecer sempre que via filmes na tua casa (até hoje continuo a pensar que aquela TV tem um efeito hipnótico fora do normal),
A minha resistência e inaptidão para as tarefas culinárias,
A tua atenção relativamente ao meu resumo (que nunca era resumo) do meu dia,
As trocas de impressões sempre acesas acerca das boas práticas dos RH,
As gargalhadas, a cumplicidade, a vontade de estar...

Voltaste.
Quis ouvir as novas que tinhas para contar,
Um admirável mundo novo, portanto,
Estava tudo diferente.

Eu não entendi que aquele tempo tinha ficado no tempo.
Provavelmente fui tomada por uma insensatez quase adolescente, queria forçar os ponteiros do relógio...Queria voltar ao Inverno, aos casacos compridos, às corridas até ao Monumental, queria...É o incondicional que fala, como se de um tempo verbal, se tratasse.

Conheces-me bem,
Continuo a sentir a tua ausência, uma falta do tamanho do mundo,
Não porque estou tomada de uma carência absurda e excepcional,
Apenas porque há pessoas e momentos que fazem parte de um espólio quase sacro,
São pequenas relíquias, que não nos apetece partilhar com nada e com ninguém,
Quando nos furtam da sua presença de alguma forma,
Questionamos o sentido das coisas,
Aquilo que projectamos nos outros.
Eu pequei porque pensei que seria especial, pois esse era o meu profundo e secreto desejo.

Irei sempre lembrar-me de uma imagem,
Da minha chegada aquela festa,
Vi o teu semblante e reconheci-te,
Tinhas aquele ar cool que tanto te caracteriza,
Mãos nos bolsos e a falar com o teu grupo de amigos.

SIM,
SINTO FALTA DA ‘TUA’ PAZ.
Era impar…
Sempre que oiço Brel, lembro-me de ti.
Tenho de deixar-te partir...

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